Recebemos um comentário sobre a postagem “Qualis CAPES 2012 - Periódicos de Turismo”, que nos desafia de modo interessante. O Kleber, seu autor, diz se surpreender com a pressão exercida pelos diferentes atores sobre os professores e discentes do ensino superior para sempre publicarem mais e melhor. Segundo ele, “aliar a quantidade e qualidade em nossas publicações é muito difícil. Então às vezes nos vemos desmotivados a escrever um artigo bom (levando mais tempo, claro) para um periódico internacional em inglês, em contrapartida de 2 ou 3 ‘simples’ para um congresso ou revista brasileira.”
Além disso, o Kleber faz algumas perguntas, que tentarei comentá-las.
1. Primeiro nos pergunta como é o funcionamento do processo de produção e publicação em turismo em outras regiões do mundo. Essa é a mais simples de todas. O processo é igualzinho como se faz no Brasil. Não há grandes diferenças, pois a maioria das revistas trabalha com double blind review. Aliás, não devemos nos esquecer que se falamos em ciência, então devem existir padrões internacionais, aceitos pela comunidade acadêmica. Pelo que sei, os estudiosos brasileiros do turismo seguem esses padrões.
2. A segunda pergunta é “por que artigos brasileiros não são publicados nos mais qualificados periódicos internacionais em turismo?” Bom Kleber, essa é fácil também: simplesmente porque os pesquisadores brasileiros do turismo submetem um número reduzidíssimo de artigos a estes periódicos internacionais, principalmente àqueles em idioma inglês. Tenho a impressão que os brasileiros submetem um número maior de artigos em idioma espanhol do que em idioma inglês. Neste aspecto, nem todos sabem escrever diretamente em inglês e têm que buscar traduções. Uma boa tradução é cara. Está tudo relacionado.
3. A terceira pergunta é: “O que faz com que Coreanos, Chineses, Sul-africanos, Turcos (!!!!), australianos estejam sempre presentes nas principais publicações? O que eles tem, que não temos?”. Primeiro que alguns pesquisadores deste grupo de países já decidiram que vão publicar em inglês nos journals top. E se empenham no tema. Porém, há inúmeros, para não dizer incontáveis fatores. Por exemplo os apoios governamentais para que os estudantes de pós-graduação estudem fora de seu país de origem e; por exemplo universidades que fazem a versão em inglês do estudo no idioma vernáculo. Acho que a academia brasileira de turismo ficou durante muito tempo fechada em si mesma. Não havia intercâmbio e os poucos pesquisadores não davam conta de atender à demanda interna, quem dirá se preocupar em publicar lá fora. Além disso tudo, há a qualidade das pesquisas realizadas, quem nem sempre alcançam o padrão internacional de publicação.
4. "Como nos preparar para sermos competitivos cientificamente?" Uma outra boa pergunta. Vejo que primeiro é necessário saber pesquisar e pesquisar temas de interesse. Segundo que é necessário ter algo a comunicar. Os resultados devem ser válidos, interessantes, úteis (sem querer ser utilitarista). As pessoas devem querer ler o que temos publicado. Também é necessário conhecer o idioma inglês. É inegável que se queremos ser conhecidos teremos que publicar neste idioma. Não preciso escrever em japonês para que um japonês me entenda. Basta que seja em inglês. O contrário também é verdadeiro. Se o esperanto tivesse dado certo seria outra história.
5. "Quais são boas práticas brasileiras e internacionais, no que se refere a produção científica que devemos nos espelhar?" Essa é difícil, hein. Como boas práticas temos os colegas brasileiros que saíram do Brasil e por aí foram fazer seus mestrados e doutorados. Aprenderam vários idiomas, não só o inglês, e acabaram estabelecendo redes, amizades, conhecimento com outros pesquisadores. Se estabeleceram no exterior e de lá fazem suas investigações de qualidade, publicando em inglês, espanhol, alemão, francês, português, etc. Veja o caso da Academia Internacional para o Desenvolvimento da Pesquisa em Turismo no Brasil (ABRATUR) - www.abratur.org. Além disso, participar de congressos internacionais, conhecer as pessoas e TER ALGO A OFERECER. Os outros pesquisadores também querem nos conhecer, mas o contato será duradouro se houver troca, o "ganha-ganha". Boas práticas internacionais existem várias. Basta acessar as principais publicações em nossa área e ver a quais grupos de estudos os pesquisadores que publicam pertencem. Eles são boas práticas.
RESSALVA - Creio que tudo isso é muito interessante para quem está iniciando a carreira universitária. Porém, o mais importante, é gostar do que se faz e ter planejamento. Se alguém não quer publicar em outro idioma, tudo bem; se quer, tudo bem também. As pessoas buscam ser felizes. É isso o maior barato. Não vou me meter a publicar em inglês e a fazer pesquisas que não gosto só porque os outros dizem que é legal. Vou fazer pesquisa se eu quero, se eu gosto, se penso ser importante, se penso ser válidas. Porque eu faria algo que não gosto?
Se eu não gostasse do que faço, mudaria de profissão.