Postado por
Alexandre Panosso Netto
O Paulo Atzingen, da Redação e edição do DIÁRIO DO TURISMO, nos entrevistou no primeiro dia do Salão do Turismo.
Abaixo a matéria que saiu publicado no site http://www.diariodoturismo.com.br.
"SALÃO DO TURISMO 2010
27/5/2010
Autores do ‘Cenários do Turismo Brasileiro’ afirmam: falta epistemologia ao turismo
A diretora-presidente da editora Aleph, Betty Frommer Piazzi, entre os autores, Alexandre Panosso Netto e Luiz Gonzaga Godoi Trigo, durante a tarde de autógrafos
Nesta quarta-feira (26), um pouco antes da tarde de autógrafos do livro ‘Cenários do Turismo Brasileiro’, durante o 5º Salão do Turismo - Roteiros do Brasil, que acontece em São Paulo, os autores Luiz Gonzaga Godoi Trigo & Alexandre Panosso Netto falaram ao Diário do Turismo. Para Trigo, o fenômeno turístico não é apenas uma exposição de resultados, mas um exercício de reflexão epistemológica. “não é só o estudante, o profissional da área lê pouco; e isso reflete no mal serviço, na superficialidade, se reflete em prejuízo e não necessariamente financeiro”, disse ao DT. Trigo é professor associado do curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades de São Paulo (EACH-USP). É graduado em Turismo e Filosofia, mestre pela PUC-Campinas, doutor em educação pela Unicamp e livre-docente em Lazer e Turismo pela ECA-USP. Netto é mestre em História e doutor em Ciências da Comunicação, atualmente é docente do curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
O livro, que foi lançado no Núcleo do Conhecimento do Salão do Turismo, contou com a presença da diretora-presidente da editora Aleph, Betty Fromer Piazzi
Diário - O livro ‘Cenários do Turismo Brasileiro’ apresenta um cenário diacrônico, faz uma análise histórica do turismo e é bastante crítico. Aliás, há no final dos capítulos perguntas para os seus consulentes. Eu devolvo uma das perguntas para os senhores: Quais foram os avanços e conquistas do turismo no Brasil, nos últimos 10 anos?
Godoi Trigo – Objetivamente foram na hospitalidade em geral, na gastronomia, um pouco em transportes, não mais porque a infra-estrutura continua problemática. Houve um certo avanço na formação profissional. Houve um avanço, por exemplo, nos órgãos públicos. Há 16 anos, já desde o governo anterior, já se trabalhava com gente capacitada.
A gestão de Caio Carvalho, à frente da Embratur e depois a de Walfrido Mares Guia, à frente do novo Ministério do Turismo, deram continuidade a muitos projetos e ampliou outros. O impulso ao mercado brasileiro de eventos e uma nova política de divulgação do País no exterior, na gestão de Eduardo Sanovicz na Embratur, ajudaram a articular no exterior. Tivemos exemplos de cidades e Estados que desenvolveram gestões muito profissionais.
Diário - E quais os principais problemas enfrentados pelo Turismo nos últimos 10 anos?
Godói Trigo – Falta de mão de obra mais qualificada; melhorou mas não temos ainda uma condição ideal; problemas de infra-estrutura, a situação dos portos é um problema seríssimo, entre outros. Mas é preciso frisar que há um subproduto desse quadro que é a cegueira situacional de ainda encarar o turismo apenas pelo seu lado econômico ou administrativo, quando há fortes correntes internacionais que o vêem como fenômeno social, político, cultural, ambiental, mas não reduzido exclusivamente a cifras e fórmulas estereotipadas.
Diário – No livro você faz algumas narrativas, alguns insights, na verdade qual foi a intenção de fazer esses cortes atemporais?
Panosso Netto – Na realidade, criei esses cenários que iniciam cada capítulo para apontar o tema que vai ser desenvolvido. Um exemplo é a família que vai viajar para Manaus e enfrenta o caos aéreo. A outra é o caso da família americana que procura um destino para ir e fica em dúvida se vai para o México ou para o Rio de Janeiro. Lêem um jornal sensacionalista sobre violência e não conseguem encontrar informações sobre o Rio e decidem ficar no México onde encontrarão pessoas que vão falar o idioma deles, é mais perto é mais barato. São pequenos cenários...
Diário – Os senhores afirmam que a cronologia da Crise Aérea ou o Caos Aéreo teve seu começo na colisão entre o Boeing 737-800 da Gol e o jato executivo Legacy em 29 de setembro de 2006 e que essa crise ainda não chegou ao fim....
Panosso Netto – Creio que não. Já vinha acontecendo os problemas. A partir do final de outubro de 2006 os relatórios preliminares dos órgãos competentes apontavam falhas na cobertura do espaço aéreo brasileiro e problemas de equipamentos de controle do tráfego aéreo, uma série de atrasos começava a ser registrado em aeroportos de todo o País, afetando decolagens e aterrisagens dos aviões de todas as empresas. Onde está a nova pista de Guarulhos que não sai?. É impossível dizer que a crise aérea acabou. Você pode ver o que acontece com Congonhas. Trata-se de um aeroporto central e não há espaço para todos.
Diário – Vocês apresentam também nesse livro muitas projeções positivas do turismo, com uma boa perspectiva para o Brasil no futuro. Segundo vocês, falta uma epistemologia para o trabalhador do turismo no Brasil. Como vocês explicam isso?
Godoi Trigo – São categorias conceituais e métodos de trabalho que podem ser ligados com a administração, podem ser relacionados à ciências humanas, filosofia, antropologia, com a questão ambiental. Mas um profissional de turismo, seja graduado ou não em turismo, mas qualquer pessoa que trabalha com turismo precisa ter informação, precisa ter leitura. As pessoas lêem pouco. E isso não é só relacionado ao estudante, mas o profissional da área também lê pouco; e isso reflete no mal serviço, na superficialidade, se reflete em prejuízo e não necessariamente financeiro. Porque quanto mais o profissional, seja ele empresário, seja ele técnico, do setor público ou privado, quanto mais ele for preparado, mais ele terá retorno para si, inclusive em termos econômicos.
Por outro lado, a produção acadêmica em turismo deveria construir uma teoria do turismo, mas as informações e pesquisas encontraram-se desconectadas, impossibilitando o avanço significativo do debate. As novas pesquisas e os novos cursos geraram outra interrogação na academia de turismo: 'qual a validade desse conhecimento produzido? Qual a garantia de que esse conhecimento em turismo pode ser utilizado na prática e qual é a garantia de que ele não é um conhecimento falho?'