sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Turismo de raízes II

Postado por Alexandre Panosso Netto


*Aviso aos leitores assíduos: postagem destinada a meus familiares Panozzo/Panosso - não tem muito a ver com turismo. Outras postagens sobre a família estão no novo blog: http://familiapanozzo.blogspot.com
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Conforme expliquei numa das postagens anteriores (Turismo de raízes I), aproveitei as férias para participar do I Encontro Nacional da Família Panosso/Panozzo no Rio Grande do Sul, no dia 23 de janeiro.


Meus parentes me solicitaram um texto que contasse a história da família, de forma breve. Esse texto foi apresentado no encontro mencionado na hora da cerimônia religiosa. Segue abaixo o material completo para os parentes que já me escreveram emails solicitando o texto.



BREVE HISTÓRIA DA FAMÍLIA PANOZZO/PANOSSO NO BRASIL
É bom estar em família. Melhor ainda é conhecer nossa origem e nossa história.
A grande maioria dos dados que serão aqui apresentados foram retirados do livro do maior historiador da família, Virgílio Panozzo, 84 anos, que vive há mais de 50 na Austrália. Um de seus livros intitula-se “Tresche Conca: town of imigrants”, ou seja, “Tresché Conca: Terra de imigrantes”. Virgílio e sua esposa Floriana, 86 anos, pedem desculpas por não poderem estar presentes neste encontro de hoje.
Virgílio Panozzo e este que escreve quando nos encontramos em Vicenza, Itália, em 2009.

Tatiana, Virgílio e Floriana, sua esposa em Treschè Conca, Itália em 2009.
Outro grande historiador e memorialista dos Panozzo, este do Brasil, no qual nos baseamos, é Oscar Panozzo, de Caxias do Sul (que está presente hoje aqui com sua família). De suas anotações e profundo conhecimento do tema – pois há muito tempo se ocupa de coletar materiais, causos, fotos e documentos e visitar cemitérios e cartórios – é que temos a grande maioria dos dados históricos de nossa família no Brasil, principalmente do ramo do sul do país.
Família de Caxias do Sul. O primeiro da esquerda é Oscar Panozzo, o maior conhecedor de nossa história no Brasil.
Há várias versões para o surgimento do sobrenome Panozzo. Alguns dizem que vem de “panussus”, ou pano velho; outros que vem de “pão e osso”, ou seja, que as pessoas deste sobrenome comiam esses alimentos; por fim há a versão de que Panozzo significa “pessoa boa” “de origem boa, de boa fé”. Todas essas versões não puderam ser confirmadas de maneira documental. Sabe-se, porém, que a grafia do sobrenome Panosso pode ser tanto com dois Zs quanto com dois Ss, sendo a grafia com dois Zs é a mais antiga, portanto, a original. O sobrenome com dois S é uma variação, trata-se, todavia, do mesmo tronco familiar.
Na origem na Itália, muitos dos Panosso também adotaram outros sobrenomes, entre eles Rossi, que tinham cabelos vermelhos; Mantoan, que viviam na montanha; Dalla Riva, que viviam perto do rio, e assim por diante. O sobrenome passou a ser unificado somente a partir de 1798.
A origem temporal e geográfica da família nos remete ao que hoje é conhecido como norte da Itália e ao fim do século XVI, ou seja, fins dos anos 1500, mesmo século das primeiras ações colonizadoras portuguesas no Brasil.
A região da cidade de Vicenza, terra do grande arquiteto Andrea Palladio, é o berço da família. A cerca de 15km da cidade de Vicenza, e ao pé de uma grande montanha, está o pequeno vilarejo de Cogolo, com uma igreja fundada ainda no século XVII. Subindo a montanha, a 20 km de Cogolo, está o que é conhecido como “alto piano”, ou alto plano; ali está o pequeno vilarejo de pouco menos de dois mil habitantes, na altura de 1.050 metros do nível do mar, denominado Treschè Conca.
Em Treschè Conca, no tempo do verão as famílias se estabeleciam para plantar e cuidar de animais. Todavia, no tempo do inverno, devido ao frio estremo com nevascas que deixavam até um metro de neve sobre o solo, era impossível sobreviver. Nesta estação do ano as famílias desciam a montanha para buscar trabalho em outras cidades, tais como Vicenza, Verona, Veneza... alguns iam cada vez mais longe, até à Suíça, Alemanha e... não voltavam mais. Tornavam-se imigrantes!
Sobre o tema da nobreza dos Panozzo também é importante falar. Segundo os estudos de Virgílio Panozzo, já denominado, existiu uma família nesta região de Vicenza que se auto-concedeu o título de “nobre”. Todavia, em sua origem, nada tinham de nobres no aspecto de realeza. Em poucos anos esses ditos “nobres” deixaram de existir, pois não tiveram descendentes.
Neste sentido, é importante deixar claro que não existe e nem nunca existiu um brasão dos Panozzo que pudesse ser confirmado por documentos históricos, ainda que em alguns sites de internet é possível encontrar empresas que prometem descobrir o brasão de qualquer família. Pessoas desavisadas correm o risco de pagar por um documento ou uma imagem forjada, que não apresenta valor nem originalidade histórica.
Nos anos de crise da Itália, no século XIX, entre 1860 e 1880 fortalece-se o processo migratório para outros países, entre os quais Argentina, Estados Unidos e Brasil.
No Brasil, ao contrário do que muitos aqui presentes possam acreditar, não existe somente o ramo da família aqui do Rio Grande do Sul. Há um grande grupo com o mesmo sobrenome - com dois SS - no estado de São Paulo. Todos imigrantes que foram trabalhar nas lavouras cafeeiras do interior do estado na época dos últimos suspiros da vergonhosa escravidão em nosso país. Em conversa com alguns desses Panosso de São Paulo, descobriu-se que eles acreditam serem os primeiros no Brasil e que eles são a origem do ramo do Rio Grande do Sul. Ou seja, mais estudos serão necessários para desvendarmos essa dúvida que ainda paira sobre a história.
Voltando um pouco mais no tempo, o primeiro Panozzo documentado que se tem notícia, é MATTIO PANOZZO, nascido no terceiro quartel do século XVI, no vilarejo de Cogolo, o qual teve dois filhos no início dos anos 1600.
O primeiro Panosso identificado e documentado que veio ao Brasil foi DAVIDE Panozzo, em viagem no ano de 1891, portanto, há exatos 120 anos a atrás. De MATTIO PANOZZO até o seu primeiro descendente a chegar ao Brasil, foram sete gerações.
DAVIDE veio da Itália, viúvo e com 4 filhos, sendo que um estava casado, dois solteiros e um também era viúvo.
Os filhos de DAVIDE eram INNOCENTE, DOMENICO, LUIGI e GIACOMO.
As famílias hoje aqui reunidas são descendentes de dois desses filhos: INNOCENTE – que podemos dizer que é o ramo da região do interior do estado do Rio Grande do Sul, e os descendentes de GIACOMO que estão, falando de maneira geral, na região de Erexim e de Caxias do Sul, na qual se inclui o berço dos Panosso no Rio Grande do Sul: Antônio Prado e Nova Roma do Sul.
INNOCENTE havia se casado na Itália com Tereza Manfron e com ela teve um filho, Antônio Panozzo, que era italiano. Tereza morreu jovem ainda na Itália. INNOCENTE se casou a segunda vez já no Brasil, com Catterina Pecoraro e com ela teve sete filhos, todos brasileiros.
Desses dois filhos de INNOCENTE, Antonio nascido na Itália e Luigi, nascido do segundo casamento no Brasil, a grande maioria das pessoas aqui é descendente e esses dois foram os grandes formadores da família Panosso de Frederico Westphalen.
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O ato de buscar sobre a origem histórica de cada um não é um ato vazio. É pleno de significado, pois representa o respeito à história; o reconhecimento dos desafios enfrentados - e vencidos – pelos antigos; a aceitação de que os homens não caminham sozinhos e não superam obstáculos sozinhos: precisam uns dos outros; reconhecimento de que a união, o amor, a solidariedade, a ética, são valores a serem preservados... e mais: o reconhecimento de que a vida na terra é efêmera, rápida, um sopro divino que nos foi dado como nosso maior bem, para que façamos dele o melhor uso possível.
Festejar o valor da vida é o grande objetivo deste encontro! É com esse pensamento que nos reunimos para estreitar os laços de sangue que circulam entre nós, mesmo que vivamos distantes geograficamente.
Por nossa origem comum, nos fazemos próximos. Os laços cristãos também nos unem nesta fé, nesta dádiva, neste dom.
Esperamos que nossos ancestrais recebam este momento com respeito, carinho e admiração. Agradecemos a eles os ensinamentos recebidos.
Que nossos descendentes tenham por nós a mesma admiração que temos por nossos pais, avós, bisavós, triavós e assim sucessivamente.
Que sejamos dignos desta homenagem futura por nossos exemplos.
* Escrito por Alexandre Panosso Netto e apresentado ao público em 23 de janeiro de 2011.


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Que tal um vinho da safra 4.100 a.C?

Postado por Alexandre Panosso Netto

Para quem ama um bom vinho, ou boas histórias sobre o vinho.
Essa recebi no Facebook e foi publicada em:

 http://www.ucpress.edu/blog/12487/4100-bc-was-a-good-year-for-wine/

No final do link acima tem um vídeo, vale a pena ver.


"4100 B.C. Was a Good Year for Wine

What’s your favorite vintage? 2005? 2007? How about 4100 B.C.? That’s the year scientists have dated theearliest known winery, discovered in a cavern in Armenia. The international team of researchers, based out of UCLA, found a vat they believe was used for pressing grapes, along with the remains of crushed grapes, seeds, vine leaves, storage jars, and drinking cups in an archaeological site known as Areni-1.
Patrick McGovern, scientific director of the Biomolecular Archaeology Laboratory at the University of Pennsylvania Museum in Philadelphia and author of Uncorking the Past: The Quest for Wine, Beer, and Other Alcoholic Beverages, told the AP, “The evidence argues convincingly for a winemaking facility.” In Uncorking the Past, McGovern explores a provocative hypothesis about the integral role libations have played in human evolution, from the rice wines of China and Japan to the corn beers of the Americas to the millet and sorghum drinks of Africa.
The winemaking site in Armenia was surrounded by graves, leading researchers to believe the wine was used in a ceremonial context. McGovern supports this theory: “Even in lowland regions like ancient Egypt where beer reigned supreme, special wines from the Nile Delta were required as funerary offerings and huge quantities of wine were consumed at major royal and religious festivals,” he explained."

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Turismo de raízes I

Postado por Alexandre Panosso Netto

Turismo de raízes é aquele feito com o objetivo de encontrar as origens familiares, visitar o lugar dos antepassados, conhecer a cultura de nossos pais, avós, bisavós. É um segmento de turismo que está interligado com o tema cultural da própria família.
É interessante quando estudamos um tema, um segmento turístico, e ainda mais quando fazemos esse tipo de turismo.
Isso se passou comigo na última semana.
Leonora Dal Canton (1917-2006) e Alexandre Panosso (1915-1979), meus avós paternos.

Tenho origens na cidade de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, e sou descendentes de italianos, da região de Vicenza, mais especificamente da cidadezinha de Treschè Conca.
Pelos estudos feitos até agora, são dois grandes grupos no Brasil com o sobrenome Panosso ou Panozzo, ambos com a mesma origem.
1. Um grupo do estado de São Paulo, cujo patriarca veio da Itália em 1889 e se chamava Giovanni Panosso.
2. Outro grupo do Rio Grande do Sul, do qual o patriarca era Davide Panozzo, vindo da Itália em 1891.

Há vários anos meus tios e alguns primos planejavam um encontro da família Panosso (ou Panozzo) no Rio Grande do Sul. Esse encontro foi realizado no último dia 23 de janeiro.
Leonide Panosso, o "Nide", grande idealizador do evento de "raízes". Meu padrinho.

Bela Catedral de Frederico Westphalen. Em sua frente nossa família reunida.

O encontro reuniu gente que há muito tempo não se via.

Foi um evento familiar, alegre, festivo, com direito a um dia de comemorações, iniciado com uma missa na Catedral de Frederico Westphalen e depois um almoço com churrasco, risoto, cuca (uma delícia - espécie de pão doce do sul do Brasil), saladas, galetos, etc, etc, etc.
Italianos são muito católicos, então tudo se iniciou com a missa. 
Coral dos Panosso.

Após o almoço foram feitas as homenagens aos mais "experientes" membros da família e tribuna para discursos diversos.
Um churrasco, pois estávamos no Rio Grande do Sul, tchê!


Meninas da cozinha. A primeira da esquerda é minha tia Diva Piovesan Panosso.

Uma geral do momento do almoço festivo.

Outra visão do almoço.
Todo mundo sentadinho comendo, bem comportadinhos. Vista parcial.

A festa contou com a presença de meus parentes de Caxias do Sul, Florianópolis, Primavera do Leste, Curitiba, Balneário Camboriú, Maceió, Rio de Janeiro, São Paulo, Londrina, Palmitos, entre outras cidades.
Grupo de parentes antes do almoço: todos "Panosso" ou "Panozzo".

Na missa, no momento da homilia, tive o privilégio de fazer a apresentação do histórico da família baseado no livro "Treschè Conca -  town of imigrants" de meu primo Virgílio Panozzo e nos materiais coletados ao longo do tempo pelo primo Oscar Panozzo, de Caxias do Sul. Este último é o maior conhecedor de "causos" e história da família no Brasil - sem contar as dezenas de fotos históricas que ele tem.
Casa de meus pais logo após se casarem e local onde vivi os melhores dias de minha infância. As árvores ao fundo são nogueiras que ajudei meu pai plantar...

O fenômeno turístico se revela de forma diferente a cada um de nós. É importante termos essa consciência enquanto turistas e enquanto estudiosos do fenômeno (essa frase é para os estudantes e profissionais do turismo). Foi isso o que busquei perceber na última semana.

Em breve outras informações sobre a história da família Panosso/Panozzo, seguindo com o tema Turismo de Raízes.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Portal turístico com certificado europeu de acessibilidade

Postado por Alexandre Panosso Netto

Meu amigo Felix Tomillo acaba de me informar que foi lançado o primeiro portal turístico com certificado europeu de acessibilidade.

Para saber mais acesse a notícia completa em
http://www.madrimasd.org/informacionidi/noticias/noticia.asp?id=46952

e depois o site:

http://www.cartagenapuertodeculturas.com/


sábado, 22 de janeiro de 2011

Ano novo, projetos novos - Blog no site www.boletin-turistico.com

Postado por Alexandre Panosso Netto


No último dia 18 de janeiro foi publicada a primeira postagem de meu novo blog no site www.boletin-turistico.com.
Abaixo a mensagem original que pode também ser lida em http://www.boletin-turistico.com/blogs/item/2207-ano-novo-projetos-novos#comment-755
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Com satisfação inauguro hoje este blog no Boletin Turístico. Aceito o convite e o desafio do diretor LLuis Mesalles para escrever quinzenalmente, ou semanalmente, quando possível, um artigo referente ao turismo.
Pretendo publicar, sempre na língua de Camões, temas relacionados ao turismo, principalmente no Brasil, que está na mira do mercado internacional, pois vai sediar a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas em 2016, na cidade do Rio de Janeiro.
Como estudioso e amante da temática, também pretendo escrever sobre teorias do turismo e sobre como venho analisando a atividade e sua prática educacional.
A educação formal em turismo no Brasil iniciou-se em 1971, com a criação do primeiro curso superior em turismo, em São Paulo. De lá para os dias de hoje houve muitas “altas e baixas”. Chegamos ao absurdo de existirem mais de 700 cursos universitários de turismo, com cerca de 90 mil alunos, segundo dados no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (www.inep.gov.br). Hoje esses números são mais modestos.
Esse processo educacional no Brasil foi positivo por um lado, pois divulgou o tema do turismo a praticamente todos os municípios com mais de 60 mil habitantes; por outro lado foi negativo, pois banalizou o estudo e nem todas as Instituições de Ensino Superior mantiveram boa qualidade em seu processo de formação.
Agora, novos desafios são impostos ao Brasil. Com uma classe média efervescente, com milhões de pessoas saindo da linha de miséria e pobreza, com altos índices de emprego, com ótima avaliação do Ex- Presidente Lula (83% de aprovação e popularidade), é o momento de se preparar para os mega eventos da década. Copa de Mundo e Olimpíadas deverão ser os vetores de reestruturação da infraestrutura nacional nas grandes cidades e também deverão elevar os índices de autoestima dos brasileiros.
Todos esperam que o legado que esses eventos deixarão para o país seja positivo. Todos trabalham neste sentido. Espera-se que o novo governo da presidente recém eleita Dilma Rousseff, candidata de Lula, e que agora assume o mandado no dia 01 de janeiro de 2011, seja de ações, de inclusão social e sem corrupção, um mal que ainda aflige este país.
É com essa perspectiva que iniciamos 2011.
Ano novo, projetos novos. O futuro fazemos agora!
Espero encontrá-los com freqüência neste espaço de debates turísticos.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Férias perigosas ou turismo de experiência?

Postado por Alexandre Panosso Netto

Veja só como são as coisas: buscando na internet questões relacionadas ao turismo de experiência, encontrei essa matéria abaixo da revista Istoé Independente, edição 2032 de 15 de outubro de 2008.

Naqueles dias, nem tão distante assim, a revista identificou um tipo de turismo, digamos, "diferente". Chegou a chamá-lo de "férias perigosas" - penso que tem grande semelhante ao que hoje identificamos como turismo de experiência.

Fui um dos entrevistados do jornalista. Falei uns 15 minutos ao telefone, mas todo o discurso foi resumido a uma frase, de quase uma linha...

Tomo a liberdade para reproduzir o texto, com os devidos créditos, abaixo. Acho que não está desatualizado, uma vez que o tema da busca pelo novo, por algo espetacular, inovador, inesquecível, marcante, diferente, surpreendente, está com tudo no turismo.
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REVISTA ISTOÉ INDEPENDENTE
COMPORTAMENTO

|  N° Edição:  2032 |  15.Out.08 - 10:00 |  Atualizado em 11.Dez.10 - 18:39

Férias perigosas

Caminhadas pelo deserto do Saara e viagens ao Iraque e ao Afeganistão têm cada vez mais adeptos

João Loes
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Quando o paulistano André Bueno, 43 anos, decidiu passar férias na Mauritânia, percorrendo 180 quilômetros a pé no deserto do Saara, muita gente duvidou de sua sanidade. Casado e pai de dois filhos, chegou a ser chamado de irracional por uma tia. Ela tinha razão para se preocupar. Afinal, um mês antes da viagem, que aconteceu em janeiro passado, quatro turistas franceses haviam sido assassinados no país. Bueno fiava-se na companhia de Antônio Lenzi, o Toco, único especialista brasileiro em expedições que cruzam o Saara a pé. Toco já havia feito dezenas de viagens à África e conhecia o deserto como ninguém. Daí surgiu a idéia de levar um grupo de dez pessoas para a Mauritânia.
Este filão turístico está em ascensão. Pacotes que prometem um dia como afegão, paquistanês e até iraquiano são cada vez mais comuns. "É um desdobramento do turismo de experiência", diz Thais Funcia, coordenadora do curso de turismo da Universidade Anhembi- Morumbi, em São Paulo. "Esse viajante quer chegar a uma aldeia e acompanhar o dia-a-dia de um membro da comunidade ou visitar uma área de conflito e ver como as pessoas sobrevivem naquele ambiente", explica.
No Brasil, poucas empresas oferecem esse tipo de pacote - e preferem chamá-lo de "aventura" ou "experiência". "Os riscos são controlados, mas visitar Cabul é mais perigoso que Paris", afirma Alexandre Panosso Netto, professor de turismo da USP. No Exterior, esta modalidade de viagem é mais popular. Nos Estados Unidos, a Universal Travel Agency (UTA), há 35 anos no ramo, tem pacote com tour e estadia no Afeganistão, onde os turistas são levados do aeroporto para o hotel em vans blindadas. Pela agência, um tour por nove países do Oriente Médio custa pelo menos US$ 20 mil.
Nos EUA, há pacotes para o Afeganistão, onde os turistas são levados do aeroporto para o hotel em vans blindadas
O pacote brasileiro no Saara custa em torno de US$ 3,5 mil. O conforto é zero e a disposição, total. "Me preparei caminhando três horas por dia com a bota que usaria na viagem", conta a professora de pilates Ana Beatriz Rossi, 32 anos. O preparo ajudou, mas não evitou uma infecção alimentar que, além dela, afastou outros três membros do grupo por dois dias. "Estourar as bolhas nos pés dos colegas de viagem era um ritual diário", conta Bueno. Além dos dez brasileiros, 11 dromedários e sete guias árabes compunham a caravana. Ana Beatriz só se sentia insegura ao cruzar postos de polícia onde via homens armados. "Existe risco, e a gente deixa isso bem claro antes da viagem, mas ele é controlado", diz Toco. A próxima caminhada pela Mauritânia está programada para 9 de janeiro.
Há quem procure opções ainda mais radicais. Em 1993, durante a guerra da Bósnia, o fotógrafo Fernando Costa Neto resolveu viajar para Sarajevo. "Poderia surfar no Havaí, mas preferi acompanhar o conflito", conta. Assim que pousou na cidade, a bordo de um avião da ONU, ele foi levado de tanque para se registrar como visitante. "Ouvia tiros a toda hora, dia e noite", lembra. Sem água ou energia elétrica e com inverno beirando os 20 graus negativos, Costa Neto vivia encapotado para não congelar. Levou mais de 50 tabletes de sopa instantânea para os dez dias em que ficou por lá. "Hoje não consigo nem sentir o cheiro dessas sopas", diz ele, que ficou hospedado na casa de croatas. Para ser bem recebido, andava com uma foto em que aparece ao lado de Pelé - um atestado universal de brasilidade. "Sempre fugi dos roteiros seguidos pela maioria", diz ele, que voltou em 2006 a Sarajevo e fez fotos dos mesmos lugares que conheceu 13 anos antes.
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FONTE:
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Para saber mais sobre o tema, com discussões teóricas e estudos de caso, consulte nosso livro:
PANOSSO NETTO, Alexandre; GAETA, Cecilia (Orgs.). Turismo de Experiência. Senac São Paulo: São Paulo, 2010. 

domingo, 9 de janeiro de 2011

"Trens e turismo" - Livro

Postado por Alexandre Panosso Netto

Meu amigo prof. Thiago Allis e o colega prof. Luiz Ernesto Brambatti lançaram, no fim de 2010, o livro 'Trens e turismo", (127p., 20, reais)  pela editora Meridiano (http://www.belasletras.com.br). 
Ganhei um exemplar dos autores, que somente esta semana chegou em minhas mãos (agradeço desde já).
O livro é uma das poucas obras no Brasil que aborda de forma direta o tema "trens e turismo". 
Com muita propriedade os autores apresentam a ferrovia no Rio Grande do Sul (e em todo o mundo) como a grande incentivadora do turismo contemporâneo.


O livro é ilustrado com dezenas de fotos de época (71, para ser mais preciso), o que valoriza o trabalho. Pelas características das fotos percebe-se que este foi um belo trabalho de investigação histórica, pois muitas pertencem à famílias locais.

Parabenizo os autores pela edição da obra. Trabalhos desta natureza são fundamentais para compreendermos as origens do turismo no Brasil e o papel que as ferrovias exerceram neste processo.

Segue o sumário da obra:

Introdução
Cap. I - O papel do trem no turismo
Cap. II - O lazer no início do século XX
Cap. III - Ferrovias turísticas: práticas e possibilidades na América Latina
Cap. IV - O trem nas origens do turismo no rio Grande do Sul: Veraneios Hampel e Desvio Blauth
Cap. V - Os trens de turismo no Brasil.
Referências

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Livros de turismo publicados no Brasil (1990-2010)

Postado por Alexandre Panosso Netto

Ontem foi publicado o vol. 21, n. 3 (2010) da revista Turismo em Análise (www.turismoemanalise.org.br). Em meu entender, trata-se da mais antiga e importante revista científica de turismo editada no Brasil.
Esta revista foi criada na ECA/USP e por muito tempo ficou sob a direção competentíssima da profa. Dra. Mirian Rejowski. A Editora Aleph por uns anos chegou a ser a responsável por sua publicação e comercialização, mas a seleção dos artigos ainda era responsabilidade da equipe da USP. Depois a revista voltou para a ECA/USP e hoje é dirigida pela profa. Dra. Débora Braga e sua equipe.

Neste número publiquei, junto com meu orientando, acadêmico de Lazer e Turismo da EACH/USP, Guilherme Calciolari, o artigo intitulado "Quantos são os Livros Teóricos de Turismo Publicados no Brasil? Uma Análise da Produção Bibliográfica Nacional (1990-2010)".

O resumo do trabalho diz: "O presente estudo pretende analisar a produção científica em turismo no Brasil publicada em forma de livro por 51 editoras nacionais no período de 1990 a 27 de agosto de 2010. Os dados foram coletados nos sites das editoras e a análise se ateve aos seguintes aspectos: quantidade de livros publicados por cada uma das editoras investigadas; número de livros publicados por ano no período 1990 e 2010 (até 27 de agosto); número de edições que os livros em turismo alcançam e; temática abordada nos livros. Concluiu-se que a publicação de livros de turismo no Brasil está em ritmo decrescente desde 2002 e que está na raiz deste fato a diminuição da oferta de cursos superiores de turismo no país."

O que de fato identificamos foi carência de publicações na área teórica do turismo. São 51 editoras que publicaram sobre o tema, mas somente 560 livros publicados entre 1990 e agosto de 2010. Ou seja, quase nada, se comparado ao potencial dos estudos turísticos.

Tabela acima: Editoras e número de livros publicados (clique na tabela para aumentar).


Tabela acima: Número de livros publicados por ano pelas 51 editoras (1990 a 27 de agosto de 2010).

O pior é que esse ritmo de publicações vem caindo e que os livros não vendem, pois apenas 20,9% do total publicado tiveram mais do que uma edição, conforme tabela abaixo:

Número da edição
Número de livros
Porcentagem

443
79,1%
50
8,9%
29
5,2%
11
1,9%
6
1%
2
0,3%
8
1,4%
1
0,2%
5
0,9%
10ª
0
0%
11ª
2
0,3%
12ª
0
0,%
13ª
1
0,2%
14ª
1
0,2%
15ª
0
0%
16ª
0
0%
17ª
1
0,2%
Total
560
100%


Creio que a área encontra-se, se não em crise, à beira de uma crise. O que fazer? Tenho minhas idéias:
Fortalecimento do turismo nacional;
Maior  e melhor qualificação dos professores de turismo;
Valorização do tema "Turismo";
Maior exigência de leitura aos alunos;
Elevar a qualidade do material publicado;
Livros devem ser mais baratos;
Alunos e professores devem ler mais;
Cursos de graduação em turismo devem ser melhorados;
...

Outras reflexões, gráficos e tabelas no artigo original no site da Turismo em Análise.