Postado por Alexandre Panosso Netto
Quem é nascido na década de 1980, ou anterior a esta data, viveu o movimento dos ‘caras pintadas’ de 1992. Tratava-se de um movimento liderado por estudantes que pediam a renúncia ou impeachment do presidente caçador de marajás, Fernando Collor de Mello.
Eu era estudante de Filosofia naquele ano. Estudava nas Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso FUCMAT (hoje Universidade Católica Dom Bosco), de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Era um dia qualquer de julho ou agosto, numa manhã, perto da hora do almoço. Reunimo-nos em frente à faculdade na Avenida Mato Grosso, centro da cidade. Somávamos uns 25 estudantes de filosofia. Entre eles vários colegas seminaristas diocesanos.
Alguém subiu num banquinho, gritou algumas palavras, tínhamos bandeiras escuras e, se escondíamos o rosto era com as cores do Brasil.
Saímos de frente da universidade em passeada até o calçadão da rua Barão, mais central. Creio que eram uns mil, ou mil e quinhentos metros. Cantávamos, gritávamos, conversávamos com os pedestres, gente que trabalhava no comércio local.
Foi a primeira manifestação dos ‘caras pintadas’ na capital do Mato Grosso do Sul. Tudo coordenado por nosso centro acadêmico de Filosofia, do qual eu fazia parte.
No domingo seguinte a população de Campo Grande invadiu as ruas. Foram mais de 50 mil pessoas no protesto. As manifestações explodiram em todo o país e forçaram a renúncia aos 48 do segundo tempo.
Na rua Barão paramos em frente ao Bar do Zé. Subimos novamente nos bancos, pedimos, queríamos, exigimos, clamávamos a deposição do presidente. Aquilo era urgente, necessário, vital. Era como respirar. Lembro-me bem.
Gente que passava por lá aplaudia e apoiava; outros gritavam: “filhos de papai!”, “vai trabalhar, vagabundo!”, “encrenqueiros!”.
A tribuna (ou o banco de concreto na calçada) era livre. Todos tiveram seu momento de fúria verbal.
O motivo pelo qual nos manifestávamos também era justo; ao menos acreditávamos que era. Tudo começou pequenino em várias partes do Brasil, mas cresceu. Ninguém nesse país imaginava a dimensão que tudo poderia tomar.
Tínhamos clara consciência de tudo aquilo? Não sei.
As manifestações do momento atual, principalmente aqui na cidade de São Paulo, fizeram-me lembrar do acontecimento de mais de 20 anos.
Mas as manifestações 'daquele tempo' tinham suas diferenças:
Não tinha polícia.
Não tinha bombas.
As caras eram pintadas com as cores do Brasil.
Não havia destruição.
Não havia medo.
O trânsito fluía.
Não tinha Facebook.
… E depois de tudo, o Zé, dono do bar, ainda nos deu uma rodada de cerveja de graça.
O resto está nos livros e, hoje, nas ruas.
Quem é nascido na década de 1980, ou anterior a esta data, viveu o movimento dos ‘caras pintadas’ de 1992. Tratava-se de um movimento liderado por estudantes que pediam a renúncia ou impeachment do presidente caçador de marajás, Fernando Collor de Mello.
Eu era estudante de Filosofia naquele ano. Estudava nas Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso FUCMAT (hoje Universidade Católica Dom Bosco), de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Era um dia qualquer de julho ou agosto, numa manhã, perto da hora do almoço. Reunimo-nos em frente à faculdade na Avenida Mato Grosso, centro da cidade. Somávamos uns 25 estudantes de filosofia. Entre eles vários colegas seminaristas diocesanos.
Alguém subiu num banquinho, gritou algumas palavras, tínhamos bandeiras escuras e, se escondíamos o rosto era com as cores do Brasil.
Saímos de frente da universidade em passeada até o calçadão da rua Barão, mais central. Creio que eram uns mil, ou mil e quinhentos metros. Cantávamos, gritávamos, conversávamos com os pedestres, gente que trabalhava no comércio local.
Foi a primeira manifestação dos ‘caras pintadas’ na capital do Mato Grosso do Sul. Tudo coordenado por nosso centro acadêmico de Filosofia, do qual eu fazia parte.
No domingo seguinte a população de Campo Grande invadiu as ruas. Foram mais de 50 mil pessoas no protesto. As manifestações explodiram em todo o país e forçaram a renúncia aos 48 do segundo tempo.
Na rua Barão paramos em frente ao Bar do Zé. Subimos novamente nos bancos, pedimos, queríamos, exigimos, clamávamos a deposição do presidente. Aquilo era urgente, necessário, vital. Era como respirar. Lembro-me bem.
Gente que passava por lá aplaudia e apoiava; outros gritavam: “filhos de papai!”, “vai trabalhar, vagabundo!”, “encrenqueiros!”.
A tribuna (ou o banco de concreto na calçada) era livre. Todos tiveram seu momento de fúria verbal.
O motivo pelo qual nos manifestávamos também era justo; ao menos acreditávamos que era. Tudo começou pequenino em várias partes do Brasil, mas cresceu. Ninguém nesse país imaginava a dimensão que tudo poderia tomar.
Tínhamos clara consciência de tudo aquilo? Não sei.
As manifestações do momento atual, principalmente aqui na cidade de São Paulo, fizeram-me lembrar do acontecimento de mais de 20 anos.
Mas as manifestações 'daquele tempo' tinham suas diferenças:
Não tinha polícia.
Não tinha bombas.
As caras eram pintadas com as cores do Brasil.
Não havia destruição.
Não havia medo.
O trânsito fluía.
Não tinha Facebook.
… E depois de tudo, o Zé, dono do bar, ainda nos deu uma rodada de cerveja de graça.
O resto está nos livros e, hoje, nas ruas.
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