quinta-feira, 8 de março de 2012

Cena da vida turística nacional

Postado por Alexandre Panosso Netto

Tenho visto em eventos de turismo no Brasil alguns estudantes de turismo reclamarem que ninguém lhes dá emprego ou que são desvalorizados no mercado de trabalho etc. e tal. Tento argumentar que há sim alguns problemas neste quesito, porém somos nós também que fazemos nossas próprias oportunidades.
A próxima vez que surgir esse tema, vou ler para tais estudantes a passagem do livro "Cenários do turismo brasileiro" (Luiz Gonzaga Godoi Trigo e Alexandre Panosso Netto. São Paulo: Editora Aleph, 2009, p. 149-150). Acho que ela representa bem o que muitas vezes ocorre. 
A passagem é ficção, mas poderia bem ser verdade.

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"O município tinha certo grau de atratividade, mas durante muito tempo os prefeitos, vereadores e o trade turístico estiveram mais preocupados em saber quem ia lucrar com os desvios dos investimentos governamentais no turismo do que com o planejamento da atividade. Mas com esse novo prefeito a coisa seria diferente. Jovem estudado, contratou de imediato uma consultoria da capital para desenvolver o plano de turismo do município. “Agora a coisa anda”, todos falavam. O dono da consultoria havia se formado em uma faculdade que, por falta de alunos, acabou fechando o curso. Conheceu o prefeito em um congresso de estudantes, alguns anos atrás. O consultor nem imaginava que um dia teria esse tipo de serviço, pois quando estudou na faculdade nada em turismo lhe agradava. Até a sua monografia ele comprou em um desses sites da internet que vendem trabalhos acadêmicos. Mas agora era formado e tinha diploma, além do mais era um profissional e tinha uma empresa. Bem, verdade é que esse seria o seu segundo trabalho na consultoria. O primeiro havia sido o treinamento de cinco recepcionistas para um hotel familiar. A ideia do plano de turismo foi lançada com festa no Salão Paroquial da cidade. Era para estar pronto em oito meses e com prazo de execução de três anos e meio. Os trabalhos não foram desenvolvidos conforme o estipulado no contrato e os pagamentos à consultoria foram suspensos até que um novo cronograma fosse aprovado. Era impossível ao jovem consultor atender os prazos, pois para fazer o inventário, metas, diretrizes etc., tinha antes de ir à biblioteca ou procurar na internet informações de como tais ações seriam desenvolvidas. E agora, sem os pagamentos da prefeitura, tudo fica inviabilizado. Lembrou-se dos tempos de estudante e de quanto tempo perdeu em conversas de corredor ou no bar em frente à faculdade enquanto os demais colegas assistiam às aulas. Lembrou-se também de um professor que dizia sempre que tinham de ser críticos do turismo e no turismo, mas ele não era muito apegado a leituras e não gostava desse papo. Recentemente o Tribunal de Contas reprovou as contas de dois anos do município. Um dos projetos foi pago em parte, mas não foi executado. Alguém vai ter de explicar o caso." (Panosso Netto, Trigo, 2009, p. 149-150).
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