Postado por Alexandre Panosso Netto
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Tenho visto em eventos de turismo no Brasil alguns estudantes de turismo reclamarem que ninguém lhes dá emprego ou que são desvalorizados no mercado de trabalho etc. e tal. Tento argumentar que há sim alguns problemas neste quesito, porém somos nós também que fazemos nossas próprias oportunidades.
A próxima vez que surgir esse tema, vou ler para tais estudantes a passagem do livro "Cenários do turismo brasileiro" (Luiz Gonzaga Godoi Trigo e Alexandre Panosso Netto. São Paulo: Editora Aleph, 2009, p. 149-150). Acho que ela representa bem o que muitas vezes ocorre.
A passagem é ficção, mas poderia bem ser verdade.
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"O município tinha certo grau de atratividade, mas durante muito tempo os prefeitos, vereadores e o trade turístico estiveram mais preocupados em saber quem ia lucrar com os desvios dos investimentos governamentais no turismo do que com o planejamento da atividade. Mas com esse novo prefeito a coisa seria diferente. Jovem estudado, contratou de imediato uma consultoria da capital para desenvolver o plano de turismo do município. “Agora a coisa anda”, todos falavam. O dono da consultoria havia se formado em uma faculdade que, por falta de alunos, acabou fechando o curso. Conheceu o prefeito em um congresso de estudantes, alguns anos atrás. O consultor nem imaginava que um dia teria esse tipo de serviço, pois quando estudou na faculdade nada em turismo lhe agradava. Até a sua monografia ele comprou em um desses sites da internet que vendem trabalhos acadêmicos. Mas agora era formado e tinha diploma, além do mais era um profissional e tinha uma empresa. Bem, verdade é que esse seria o seu segundo trabalho na consultoria. O primeiro havia sido o treinamento de cinco recepcionistas para um hotel familiar. A ideia do plano de turismo foi lançada com festa no Salão Paroquial da cidade. Era para estar pronto em oito meses e com prazo de execução de três anos e meio. Os trabalhos não foram desenvolvidos conforme o estipulado no contrato e os pagamentos à consultoria foram suspensos até que um novo cronograma fosse aprovado. Era impossível ao jovem consultor atender os prazos, pois para fazer o inventário, metas, diretrizes etc., tinha antes de ir à biblioteca ou procurar na internet informações de como tais ações seriam desenvolvidas. E agora, sem os pagamentos da prefeitura, tudo fica inviabilizado. Lembrou-se dos tempos de estudante e de quanto tempo perdeu em conversas de corredor ou no bar em frente à faculdade enquanto os demais colegas assistiam às aulas. Lembrou-se também de um professor que dizia sempre que tinham de ser críticos do turismo e no turismo, mas ele não era muito apegado a leituras e não gostava desse papo. Recentemente o Tribunal de Contas reprovou as contas de dois anos do município. Um dos projetos foi pago em parte, mas não foi executado. Alguém vai ter de explicar o caso." (Panosso Netto, Trigo, 2009, p. 149-150).
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