Postado por Alexandre Panosso Netto
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Mario Carlos Beni
Primeiro Professor de Turismo do
Brasil
Pesquisa e redação: Prof. Dr. Alexandre
Panosso Netto
Escola de Artes, Ciências e
Humanidades-EACH
Universidade de São Paulo-USP
panosso@usp.br
Foto: Prof. Mario Carlos Beni
discursando durante o XIII Seminário da ANPTUR, realizado em 2016, nas
dependências da Assembleia Legislativa de São Paulo-ALESP.
Nota
do autor
Esse
artigo foi originalmente publicado em inglês em 2018 na revista Anatolia, com a
seguinte referência: Panosso Netto, Alexandre. Mario Carlos Beni – first
tourism professor in Brazil, Anatolia, 29:2, 303-310, 2018. Link para o
artigo original: https://doi.org/10.1080/13032917.2018.1478540
Esse
texto passou pela leitura do prof. Mario Beni, que o aprovou e autorizou sua
publicação. Agora ele é publicado em português, com revisão e ampliação, por
ocasião da Outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo
ao Professor Doutor Mario Carlos Beni. A honraria é uma iniciativa e
solicitação de seus colaboradores que foi apresentada à ALESP pela Deputada Estadual
Professora Bebel. A solenidade está agendada para o dia 12 de abril de 2024, às
19h00, no Plenário Juscelino Kubitschek, na ALESP.
Introdução
Foi no ano 2000 que conheci
pessoalmente o professor Mario Carlos Beni em um congresso de turismo no
Brasil. Me chamou a atenção que por onde ele andava um grupo de jovens
estudantes o seguia fazendo perguntas, dialogando e levando seu livro mais
conhecido, o "Análise Estrutural do Turismo", para ser autografado.
Algum tempo depois presenciei que nos eventos ele autografava não só livros,
mas também cadernos, folhas de papel e até guardanapos para os alunos que
queriam ter uma recordação sua.
Alguns colegas e
estudantes o chamam "guru do turismo brasileiro", e isso se deve ao
seu grande envolvimento e trabalho com o turismo no Brasil, tanto na academia
quanto na gestão pública, desde o ano de 1968. Por sua longa atuação na área e
sua habilidade política e de relacionamento franco, trata-se de uma das
personalidades mais conhecidas do turismo brasileiro, o que lhe permite acesso
livre em várias instâncias educacionais, profissionais e públicas em todo o
território nacional.
Em 2018, às vésperas
de completar 80 anos de idade e gozando de boa saúde, ele anunciou que estava
orientando seu último estudante de mestrado, porém continuaria participando de
eventos e atuando nas várias associações das quais faz parte. E assim foi.
Durante a pandemia de Covid-19, em agosto de 2020 ele abriu seu canal no
YouTube com seu programa “Troca de Ideias com o professor Mario Beni” (https://www.youtube.com/@ProfessorMarioBeni).
Quando era mais jovem, ele participou de
muitos congressos de turismo em todos os continentes do globo nos quais
conheceu e atuou com os grandes nomes do turismo mundial de sua geração. Apesar
de ser conhecido e contemporâneo de grandes autores internacionais, seus artigos
não tiveram grande difusão fora do Brasil, pois foram publicados especialmente
em português (n43), alguns em inglês (n7), francês (n4) e espanhol (n1). Sua
preferência por publicar especialmente em português, além da facilidade
linguística, deve-se ao fato de que seus estudos têm relação direta com o
turismo brasileiro e tinham como objetivo a formação de pensadores críticos do
turismo no Brasil. Sobre sua vida e obra em idioma português foram publicados
um capítulo de livro, também de minha autoria (Panosso Netto, 2005a) e um
artigo em periódico científico (Borges e Silva, 2016). Este é o primeiro artigo
que foi publicado sobre sua vida e obra em idioma inglês (Panosso Netto, 2018).
Vida
O professor Mario Carlos Beni nasceu no dia 14 de
abril de 1938 na cidade de Casa Branca, interior do Estado de São Paulo, Brasil.
Seus ancestrais então na Itália, país com o qual mantém durante toda sua vida
estreita ligação. É casado com Sônia Beni, teve um casal de filhos, um neto e
uma neta. É filho único de Maria Diva Beni e Mario Beni. Segundo dados do CPDOC-FGV
(2018), seu pai foi um influente político no Estado de São Paulo que assumiu cargos
de gestão pública em vários níveis e foi eleito por vários mandatos a Deputado
Estadual e Deputado Federal. Seguindo os passos do pai, Mario Carlos Beni, que
era chamado de "Marinho" pelos amigos mais próximos e pela família, aos
29 anos, foi eleito deputado Estadual por São Paulo, assumindo o mandado para o
período de 1967-1971. Porém, em 1969 o Governo Militar do Brasil, que estava no
poder por um Golpe de Estado, fechou a Assembleia Estadual e destituiu todos os
deputados. Mario Carlos Beni concorreu ainda ao cargo de Deputado Federal no
início dos anos 1970, mas não foi eleito. Na década de 1980, novamente ele se
envolve com a política nacional. Em suas palavras:
"No ano de
1983, o país desperta para a luta pela democracia e pelas “diretas já”
[Movimento civil brasileiro que reivindicava o direito a eleições democráticas
para os cargos públicos]. Não pude escapar à tentação de nela me engajar e
participar ativamente do movimento, filiando-me na época ao PDT [Partido
Democrático Trabalhista]. Com a retomada da militância política, vi-me
surpreso, dois anos depois, eleito seu Secretário Geral e, mais uma vez, não
pude fugir ao apelo das urnas. Candidatei-me à Câmara dos Deputados e à
Assembleia Nacional Constituinte em 1986, obtendo mais de setenta mil votos,
ainda insuficientes para elevar-me à posição de representante dos interesses do
povo de São Paulo" (Beni, 2018).
Após
as eleições de 1986 nunca mais Mario Carlos Beni concorreu a um cargo político
eletivo. Esse interesse e envolvimento com a política que foi herdado do pai,
marcou a sua atuação profissional e acadêmica por toda vida. Ainda hoje ele
expressa publicamente a amigos e em seu site pessoal o interesse em assumir um
cargo eletivo no Congresso Nacional para "defender as ideias pesquisadas e
trabalhadas na academia, que vão do respeito à cidadania até a garantia dos
direitos plenos de uma democracia consolidada" (Beni, 2018).
Desenvolvimento acadêmico
Em seguida, entre
1971-72, recebeu uma bolsa de estudos para extensão universitária da Japan
International Cooperation Agency, indo a Tóquio por oito meses,
local onde conheceu o "boom" turístico ocorrido no sudeste Asiático
no início da década de 1970. Passou por um estágio de dois meses no Instituto
de Estudos Turísticos de Madrid e depois mais um mês em Aix-en-Provence com o
professor René Barejte (Panosso Netto, 2005a). Segundo suas palavras: "Aí eu realmente mergulhei na pesquisa em
turismo. Depois complementei esses estudos em Cornell (USA) com enfoque
hoteleiro e retornando ao Brasil já comecei imaginar um curso de turismo na
Universidade de São Paulo" (Panosso Netto, 2005a, p. 860).
Ao retornar ao Brasil, em 1971 ele assumiu a disciplina "Desenvolvimento do Turismo" na Universidade de São Paulo. Em 1972 foi nomeado pelo Ministério da Educação como primeiro professor de turismo do Brasil, com a disciplina "Planejamento e Organização do Turismo" (Brasil, 1972). Em seguida foi designado para elaborar o projeto do curso de Graduação em Turismo da Universidade de São Paulo. O curso foi aprovado e iniciou em março de 1973, sendo o primeiro curso superior de turismo numa instituição de ensino pública do Brasil, e está em funcionamento até os dias atuais (Nota: o primeiro curso superior de turismo no Brasil foi aberto em 1971, na atual Universidade Anhembi-Morumbi, em São Paulo).
Aliando
as atividades de ensino e de gestão universitária, Mario Beni iniciou suas
pesquisas em turismo e defendeu o Mestrado em Ciências Sociais (1981) pela
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com a dissertação
“Caracterização da Natureza dos Fluxos para a Classificação da Demanda por
Turismo”. Seu doutorado é em Ciências da Comunicação (1988) pela Universidade
de São Paulo com a Tese “Sistema de Turismo - Construção de um modelo teórico
referencial”. Sua Livre-Docência (1991) foi defendida com a tese “Análise do
Desempenho do Sistema Nacional de Turismo Instituído na Administração Pública”,
pela Universidade de São Paulo. Em 1998, por meio de concurso público, assumiu
o cargo de professor Titular (Catedrático) na Universidade de São Paulo,
coroando ainda mais sua carreira acadêmica.
A Universidade de São
Paulo é a referência para Mario Beni, local onde foi um dos primeiros e
principais responsáveis por formar mestres e doutores que investigavam o
fenômeno do turismo. Durante os anos de 2002 e 2005 eu tive o privilégio de ter
sido orientado por ele em meus estudos de doutorado naquela universidade
(Panosso Netto, 2005b). Em 2008, ao completar 70 anos, ele foi aposentado
compulsoriamente das atividades acadêmicas na Universidade de São Paulo, mas
continuou atuando oficialmente como professor em programas de pós-graduação em
outras 3 universidades brasileiras por mais 10 anos, até 2018, ao completar 80
anos de idade. Por esta sua versatilidade também foi membro do Comitê de Ética da
Organização Mundial do Turismo, representando as Américas no período 2004-2007
(UNWTO, 2007). Na atualidade ainda atua em bancas de mestrado e
doutorado, eventos acadêmicos e de mercado, faz palestras diversas, além de
manter seu canal no YouTube com um programa semanal.
Sobre
os principais professores que foram inspiração no início de sua carreira com o
turismo, Mario Beni destacou o professor René Baretje-Keller e Piere Lainé
(ambos da França), Alberto Sessa (Itália), que também desenvolveu estudos
sistêmicos do turismo e Salah-Eldin Abdel Wahab (Egito), (Panosso Netto, 2005a).
Também foi inspirado por outros grandes investigadores de sua geração com os
quais teve contato, entre eles Jost Krippendorf (Suíça), Nobert Vanhove (Bélgica),
Regina Schlüter (Argentina), Sergio Molina Espinosa (Chile e México) e Jafar
Jafari (Irã e EUA).
Na
Universidade de São Paulo ele trabalhou junto com o principal grupo de
investigadores do turismo do Brasil nas décadas de 1970, 1980 e 1990, entre
eles estão Wilson Abrahão Rabahy (economista), Sarah Strachman Bacal (relações
públicas), Doris van de Meene Ruschmann (turismóloga), Américo Pellegrini Filho
(jornalista), Mirian Rejowski (Turismóloga). No fim dos 1990 outros centros de
excelência em turismo começaram a ser criados no Brasil com programas de
pós-graduação, dos quais o professor Beni também fez parte como mentor,
consultor e professor.
A escola teórica a qual Mario Carlos Beni pertence é
a sistêmica, da qual alguns de seus contemporâneos também fizeram parte, entre
ele Alberto Sessa, Neil Leiper e Roberto Carlos Boullón. Ao ser perguntado porque
ele considerou a Teoria de Sistemas a mais apropriada para estudar o turismo,
ele deu a seguinte resposta:
"Eu sentia,
como docente, uma grande dificuldade de os alunos correlacionarem as diferentes
disciplinas que integram a estrutura curricular de turismo. Era muito difícil
eu estabelecer essa correlação. Então eu comecei estudar, e sem perceber,
comecei a utilizar uma série de diagramas. Concebi alguns desenhos e diagramas
para explicar a complexidade e eventualmente os setores que estariam envolvidos
e que deveriam ser trabalhados numa interatividade permanente e, além disso, no
aspecto de integração e pró-ativo. Então eu usava isso de uma forma
absolutamente empírica, foi quando eu me deparei com um livro despretensioso
[Análise de sistemas em geografia. São Paulo: Edusp/Hucitec, 1979, de Antonio
Christofolleti], mas que me conduziu a um raciocínio sistêmico. Então eu nem
estava imaginando utilizar um instrumento da Teoria de Sistemas ao Turismo.
[...] e eu comecei a achar que precisava trabalhar com isso. E aí foi ai que
nasceu o SISTUR (Sistema de Turismo), [...]. Quer dizer: o que eu buscava na
verdade era um diagrama que pudesse mostrar aos alunos toda a complexidade e os
subsistemas que integravam o turismo com a preocupação de mostrar aqueles
sistemas que antecedem e explicam o fenômeno turismo. Então eu precisava
mostrar que a ecologia, a cultura, a economia e a sociologia tinham variáveis
usadas permanentemente na interpretação do fato e do fenômeno do turismo. Então
é claro que para mostrar isso eu sempre procurava remeter naquilo que eu chamei
de ambiente do sistema. Porque na verdade são áreas que definitivamente nos
emprestam variáveis a todo momento, e a partir das quais nós utilizamos para
explicar o quadro do fenômeno turismo e então voltadas à sociologia, à
antropologia, às ciências, à geografia, à ecologia, à área ambiental, à
cultura, enfim, todas essas áreas, a própria filosofia, etc." (Panosso
Netto, 2005a, p. 862).
Figura 1 – Sistema de Turismo de
Beni (SISTUR). (Beni, 1998, p. 48).
O desenvolvimento teórico do Sistema de Turismo de Mario Carlos Beni ocorreu durante a década de 1980, e configurou-se como tese de doutorado em 1988, sendo publicado em forma de livro em 1998 com o título "Análise Estrutural do Turismo". Em 2024 esse livro estava em sua 13ª Edição em idioma português, porém nunca foi traduzido para outro idioma. Trata-se de um livro que possui 523 páginas. O eixo teórico principal é a análise do turismo a partir da Teoria Geral de Sistemas apresentada pelo biólogo Ludwing Von Bertalanffy. O turismo seria formado por 3 conjuntos: conjunto das relações ambientais, o conjunto da organização estrutural e conjunto das ações operacionais. Cada um desses conjuntos estaria em constante troca um com o outro e com o meio político, social, ambiental, cultural e econômico. Cada um desses conjuntos seria formado por subconjuntos. No livro, cada uma das partes que compõe o turismo é explicada em seu contexto amplo e em sua importância para a atividade (Ver Figura 1).
É
essa visão sistêmica que marcou grande parte dos estudos de turismo no Brasil,
pois seu livro tornou-se leitura obrigatória em mais de 700 cursos de graduação
que existiam no Brasil entre os anos 2000 e 2005. Segundo dados do Ministério
da Educação (Brasil, 2004) em 2004 existiam 89.865 estudantes de cursos de
graduação nas áreas das Viagens, Turismo e Lazer. Somente em 2004 foram 23.627
novas matrículas numa dessas áreas (Brasil, 2004). Hoje, porém, com a
diminuição dos cursos e com as facilidades de acesso a estudos internacionais,
além das análises críticas relacionadas à Teoria Geral de Sistemas, o livro do
professor Beni é menos utilizado. Independente deste fato, sua matriz teórica
configurou-se num avanço no turismo, não só na academia, mas também no setor
público nacional. Para exemplificar seu alcance, é importante citar que os
Planos Nacionais de Turismo do Brasil de 2003-2007, 2007-2010, 2013-2016 e
2018-2022 utilizam a análise sistêmica em suas propostas. Esse é um dos
reflexos mais evidentes dos estudos do professor Mario Beni no Brasil.
O
único autor brasileiro de turismo que conseguiu construir uma escola de
pensamento foi o professor Mário Beni. No livro “O pensamento turístico
brasileiro: entre a teoria e a prática”, após os autores desenvolverem a análise
da produção acadêmica do turismo brasileiro de 1970 até os dias atuais, está a
conclusão que comprova justamente essa informação (Oliveira e Panosso Netto,
2023).
Trabalhos acadêmicos
Os principais
projetos de pesquisa de Mario Beni tiveram como foco algum aspecto do turismo
nacional brasileiro. Seus artigos e livros tratam de política pública de
turismo (Beni, 1999b; 2006a; 2006b), transporte (Beni, 2003), gestão de turismo
(Beni, 1973; 1995; 1997b), marketing (Beni, 1998b; 1999a), estudos de demanda
turística (Beni, 1997a; 1998b), globalização e turismo (Beni, 1996; 1999a; 2004),
educação em turismo (Beni, 1975; 1980; 1990a; 1990b; 1993) dentre outros temas.
Segundo dados de seu
currículo público, disponível na Plataforma Lattes (2018), Mario Carlos Beni formou
como orientador 29 mestres e 14 doutores. Soma-se a isso a participação em 97
bancas de defesa de mestrado, 40 de doutorado e outras 58 bancas de avaliação
de outra natureza. Entre seus estudantes estão alguns dos principais
professores e investigadores do turismo brasileiro na atualidade, além de
gestores municipais e estaduais do turismo. A colocação no mercado de trabalho
de seus ex-alunos exemplifica a importância do professor Mario Beni e explica
um pouco o seu trânsito fácil pela rede de turismo no Brasil.
Esse
vasto conhecimento e relações criadas ao longo de 56 anos de atuação na área do
turismo, tornou o professor Beni um ponto de referência para inúmeros
pesquisadores e gestores do turismo Brasileiro. Ele é era o membro mais longevo
do Conselho Nacional de Turismo do Brasil – desde sua fundação até fins de 2023
quando pediu para não participar mais. Foi indicado em 2003 pelo ex-presidente
da República Luiz Inácio Lula da Silva e, por 20 anos ininterruptos, participou
ativamente de suas reuniões, sendo uma das vozes de maior respeito naquele
órgão. Entre 2003 e 2016 foi consultado pela presidência da República para
assumir a direção do Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) e o Ministério
do Turismo em várias oportunidades, porém não chegou a assumir nenhum dos
cargos. A política tem seus segredos que às vezes desconhecemos, infelizmente.
Em
termos de associações e organizações, Mario Beni já foi membro, ou ainda é
membro, da Associação Brasileira dos Bacharéis e Estudantes de Turismo
(ABBTUR), Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo (ANPTUR), Academia
Brasileira de Eventos e Turismo (ABEVT), Confederação Nacional do Turismo
(CNTUR), Conselho Nacional de Turismo (CNT), World Association for Hospitality
and Tourism Education and Training (AMFORHT), World Committee on Tourism Ethics
(UNWTO, 2004-2007 [UNWTO, 2007]) e International Association of Scientific
Experts in Tourism (AIEST).
Se contarmos apenas o
envolvimento com o turismo, poderíamos dividir o trabalho do professor Mario
Carlos Beni em três períodos:
1) De 1968 a 1991 - Período no qual estabelece
as bases dos estudos turísticos no Brasil. Dedica-se especialmente ao ensino na
graduação em turismo da Universidade de São Paulo e no aprofundamento de seus
estudos de mestrado, doutorado e livre docência, todos com pesquisas
relacionadas ao turismo nacional. Idealiza o Primeiro Congresso Nacional de
Turismo, em 1975. É o período no qual ajuda a estabelecer as primeiras
instâncias públicas de gestão do turismo em alguns Estados e municípios
brasileiros.
2) De 1992 a 2002 -
Período no qual ajuda a criar os primeiros programas de pós-graduação em
turismo no Brasil e se consolida como o grande teórico nacional do turismo,
marcando claramente suas ideias com suas conferências, artigos, mas, mais
especialmente, com seu livro Análise Estrutural do Turismo, que foi publicado
por primeira vez em 1997.
3) De 2003 a 2018 -
Período de completo reconhecimento acadêmico e teórico por seus pares. Lança
outros 4 novos livros e intensifica a atividade de professor convidado em
vários programas de pós-graduação em turismo do Brasil. Assume sua cadeira no
Conselho Nacional do Turismo do Brasil e fortalece sua atuação como consultor
na esfera política, especialmente nas associações de classe e de organizações
do turismo nacional. É neste período que passou a ser membro do Comitê de Ética da
Organização Mundial do Turismo, representando as Américas.
Publicações selecionadas
A Plataforma Lattes
(2018) informa que Mario Beni publicou 55 artigos de turismo, sendo que o
primeiro foi em 1973, com o título "Turismo Nacional" (Beni, 1973). O
último intitula-se "Limites e possibilidades da inclusão social pela
Política Nacional de Turismo: O caso do Programa de Regionalização do Turismo"
(2017). São sintomáticos esses títulos, pois exemplificam claramente o que
aconteceu no Brasil e em vários outros países em relação ao estudo do turismo. Primeiro
são iniciados os estudos com um foco amplo, abrangente, para então depois de
superada a etapa de análises gerais, iniciarem-se os estudos sobre temas mais
pontuais do setor. Seu artigo mais citado no Google Scholar (n156) é
"Política e estratégia do desenvolvimento regional: planejamento integrado
e sustentável do turismo", de 1999 (Beni, 1999b).
Ao todo foram 5
livros publicados por Mario Beni, sendo que um deles é uma obra organizada, 3
obras científicas completas escritas individualmente e uma é obra de relato e
análise dos lugares pelos quais passou na condição de turista. Por ordem de
data de publicação são os seguintes livros: Análise Estrutural do Turismo (4.359
citações no Google Scholar, 1998(a)); Globalização do turismo: Megatendências
do setor e a realidade brasileira (705 citações no Google Scholar, 2004);
Política e planejamento de turismo no Brasil (688 citações no Google Scholar, 2006(a));
Colecionando destinos: percepção,
interpretação do patrimônio e imaginário (6 citações no Google Scholar, 2007) e;
Turismo: planejamento estratégico e capacidade de gestão - desenvolvimento
regional, rede de produção e clusters (obra organizada com 106 citações no
Google Scholar, 2012).
Além dos livros e artigos,
Mario Beni publicou 18 capítulos de livros, 41 artigos em jornais. Chama a
atenção o incrível número de 664 trabalhos e conferências em congressos e
eventos diversos. Sua primeira conferência documentada data do ano 1964 (Plataforma
Lattes, 2018). O Google Scholar (2025) aponta seu H index 22 e um total de 7.411
citações.
Na questão dos
prêmios, recebeu da World Association for Hospitality and Tourism Education and
Training o "AMFORHT Awards 2004", sendo este seu principal prêmio
internacional. Recebeu também o prêmio de "Pesquisador Emérito-2010"
da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo (ANPTUR-Brasil) e
o “Troféu Loba Romana por Serviços Prestados à Comunidade-2003”, da Assembleia
Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP). Além desses recebeu outros 20
prêmios das mais variadas esferas no Brasil, sendo o primeiro deles em 1969, do
Rotary Clube (Plataforma Lattes, 2018). Em abril de 2024, recebeu a mais alta
honraria da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo-ALESP, o Colar de
Honra ao Mérito, uma indicação da Deputada Estadual Professor Bebel.
Fechamento
Por toda sua atuação
com o turismo é evidente a influência de Mario Carlos Beni no desenvolvimento
do turismo no Brasil. Um de seus grandes méritos é ter sido o maior
incentivador e iniciador dos estudos turísticos nacionais desde o início da
década de 1970. Suportou a crise dos anos 1980 no Brasil, que foi denominada a "década
perdida" devido às crises econômicas que o país enfrentou, mantendo seu
foco na educação em turismo e na divulgação da importância do setor para a
nação. Na década de 1990 começou a colher os frutos de seu trabalho ao
verificar que o governo federal e as instituições de ensino superior
fortaleceram sua atuação na área. O governo por colocar o tema do turismo em
pauta; e as instituições de ensino por ofertarem novos cursos superiores de
turismo em todos os estados da federação. No Brasil, em 2024, existem 13 cursos
de mestrado em turismo e 5 de doutorado e em todos eles a presença do professor
Mario Carlos Beni tem sido de alguma maneira marcante de forma positiva.
As palavras elogiosas
que escrevo neste artigo não são apenas porque fui um de seus orientados no
doutorado na Universidade de São Paulo (Panosso Netto, 2005b). Elas expressam o
reconhecimento de todo o setor acadêmico do turismo brasileiro a este
personagem que além de ter aberto um campo de estudos no Brasil, manteve-se
sempre fiel ao seu propósito de desenvolver com a qualidade necessária o setor.
Soma-se a isso o fato de que em sua atuação acadêmica e profissional sempre ter
sido honesto e generoso. Honesto por sempre dizer o que pensava de maneira
clara sobre as oportunidades e incongruências do turismo nacional. Generoso ao
incluir seus alunos e ex-alunos em projetos e ações, sempre passando trabalhos
e indicações de oportunidades. Exemplo de sua generosidade é o fato de que em
2017 doou sua biblioteca particular, composta por teses, dissertações,
folhetos, revistas e livros (perto de 3 mil documentos), aos grupos de pesquisa
em Lazer e Turismo sediados na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade
de São Paulo. Vários dos professores desses grupos de pesquisa foram seus
alunos em algum estágio de suas vidas.
Prova do que tenho
escrito acima se evidencia no fato de que no dia 14 de abril de 2018, data de
seu 80º aniversário, sua família lhe ofereceu uma grande festa. Estiveram
presentes 250 pessoas entre amigos, familiares, personalidades do turismo
nacional e um grande grupo de ex-alunos e colegas de turismo que acompanham sua
trajetória desde o início da década de 1970. Essa festa foi um dos melhores
exemplos do reconhecimento de sua atuação. Teve também um clima de despedida,
uma vez que o professor Beni pretendia se dedicar mais à família e aos netos.
Certamente, ele já sabe que as sementes de seu pensamento estão sendo lançadas
há décadas e que é o momento de ver os frutos serem colhidos em meio à floresta
de seguidores que foi criada à sua volta.
Referências
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