quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Clássicos em turismo - WALTER HUNZIKER e KURT KRAPF





Postado por: Alexandre














Está em Ítalo Calvino, em seu livro Por que ler os clássicos, que é melhor ler os clássicos do que não lê-los [não estou encontrando meu exemplar de capa vermelha que sempre esteve por aqui em nossa estante...).



































Não sei de quem é a frase, mas a mais hilariante definição dessa categoria de livros que estou falando: "Clássico é sempre um livro que estamos relendo". De fato, temos vergonha de admitir que não lemos tal livro. Uns tem vergonha, outros até nos ensinam a fazer isso. Tenho aqui comigo (esse acabei de achar na estante...) o de Pierre Bayard, Como falar dos livros que não lemos?  que é muito engraçado e com um tema mais do que sugestivo. Ele nos ensina até a discursar sobre livros que sequer lemos ou conhecemos e cita exemplos que gente que já fez isso.








































































































































































Voltando ao tema. Tenho me perguntado quais são os livros clássicos em turismo, sendo científicos ou não. Tenho encontrado vários deles. Muitos me foram apresentados pelo amigo espanhol Felix Tomillo Noguero, o mesmo que nos deu a sua biblioteca inteira (veja postagem do dia 21 de fevereiro), mas grande parte descobri na internet, em leituras individuais e em bibliotecas no exterior, principalmente na Europa, em um verdadeiro trabalho de garimpagem.





Um livro freqüentemente citado no Brasil, por ter uma definição de turismo que por muito tempo foi considerada "oficial", é o Grundriss der Allgemeinen Fremdenverkehrslehre (Tratado de uma teoria geral do turismo) de Walter Hunziker e Kurt Krapf, publicado em 1942 pela Polygraphischer Verlag AG. Zürich, de Zurique.




Grundriss der Allgemeinen Fremdenverkehrslehre, um clássico do turismo, dos suíços Walter Hunziker e Kurt Krapf.
Apesar de ser muito citado por autores brasileiro, temo que seja um dos menos lidos (espero estar errado)! Que paradoxo!!!
Motivo: o livro está em alemão e nunca vi um exemplar no Brasil, em nenhuma biblioteca, a não ser na nossa aqui de casa. Além do mais, não existe, até onde eu sei, uma tradução oficial desse livro para nenhum idioma. Ficou somente em alemão, excetuando-se o único exemplar de uma cópia em carbono de uma tradução datilografada (eu disse datilografada) para o espanhol feita, provavelmente, por Luiz Fernandez Fuster (foi um grande autor espanhol do turismo) em 1955. Essa cópia da tradução não autorizada também está aqui em nossa estante, com capa dura verde. Papel fininho...um verdadeiro achado num sebo de Logroño, Espanha. Comprei pela internet, duvidando que o livro estaria em espanhol - paguei para ver. O envio para o Brasil ficava muito caro, então pedi que entregassem a meu amigo mexicano Marcelino Castillo Nechar que morava na Espanha no período de seu pós doutorado. Quando vimos a preciosidade, fizemos uma festa

Folhas de rosto do Grundriss original



Folha de rosto da tradução datilografada em cópia carbono, portanto deve existir uma primeira cópia, a original.

O Grundriss tem 392 páginas e é o primeiro de uma série de quatro livros que foram motivos da Schriftenreihe des seminars für fremdenverkehr an der handels-hochschule St.Gallen (Série de seminários para o trade turístico da Universidade de St. Gallen). Os outros três livros são:
2) Verkehr und tourismus in der Kriegswirtschaft, de R. Cottier, A. Muggle, W. Meile, M. Riesen, J. Lorenz e W. Hunziker;
3) Kurort - Kurdirekto - Verkehrsdirektor, de W. Hunziker, B. Diethelm, A. Jth e K. Krapf e;
4) Nachkriegsprobleme von verkehr und tourismus, de W. Röpke, Angelo Mariotti e W. Hunziker.
Nesse livro os dois grandes pensadores suíços se destacam pela profundidade de suas análises, pela vasta revisão bibliográfica, pela atualidade do tema, pela forma simples com que tratam os problemas e por apresentarem uma solução a uma disputa teórica que existia até então.
Explico: até a publicação desse livro o turismo estava entre duas grandes vertentes de estudos:
1) A visão econômica, que analisava formas de facilitar e propiciar o aumento do tráfego de forasteiros, transformando-o num setor da economia (fremdenindustrie, ou “indústria de forasteiros” em alemão) e;
2) A sociológica, que analisava os deslocamentos  (fremdenverkehr, ou “tráfego de forasteiros”) e as mudanças que eles causavam no homem em aspectos gerais, como em sua educação, cultura e modos de vida (de vestir e falar).
Solucionando o problemas, eles mostraram que o turismo está envolvido por múltiplas áreas de estudos e de atuação, não sendo possível uma análise parcial do fenômeno (alguém pensou na proposta interdisciplinar do estudo turístico já em 1942?).
É interessante lembrar que em 1942 o mundo estava em plena Segunda Guerra Mundial, mas os autores justificam o fato do lançamento do livro nesse período dizendo que o turismo é tão importante, que às vezes é necessário uma análise num momento em que ele não está sendo praticado, para que se percebe com mais nitidez a sua grandeza.




  
Aqui está a definição de turismo desses autores publicada na página 21, no original acima é o penúltimo parágrafo.
Fremdenverkehr ist somit der inbegriff der beziehungen und erscheinungen, die sich aus dem aufenthalt ortsfremder ergeben, sofern durch den aufenthalt keine niederlassung zur ausübung einer dauernden oder zeitweilig hauptsächlichen erwerbstätigkeit begründet wird. 
Se você não entende alemão, tente em espanhol, na página 17 da cópia que tenho:




Abaixo o sumário do livro:






Cinco páginas de sumário


Creio que muito do que está sendo dito sobre o fenômeno turístico hoje em dia, já foi dito há muito tempo. Nos esquecemos da histórias e dos autores do passado que já se debruçaram sobre temas que hoje estamos refletindo. Ao menos é o que penso, daí a importância de tal obra.
No futuro farei uma postagem com breves palavras sobre Walker Hunziker e Kurt Krapf, autores que considero essenciais na história da pesquisa em turismo no mundo.

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