quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Filósofo Turista - Jean-Paul Sartre

Postado por Alexandre Panosso Netto

No ano passado ganhei o livro "A rainha Albemarle ou o último turista", de Jean-Paul Sartre. Foi um presente do amigo Rene Correâ do Nascimento (prof. da USP - obrigado Renê!).

Neste livro Sartre discorre sobre sua viagem à Itália em 1951. Foi publicado após a morte do autor, e somente alguns fragmentos de um projeto maior foram publicados, pois grande parte do livro foi perdida.
A apresentação é feita por Arlette Elkaïn-Sartre, onde está a explicação: "o último turista é o turista da última estação do ano - sua viagem é feita no outono - aquele que quer ver a Itália como os turistas do verão não a poderão ver [...]
O autor escreve sobre Veneza, Roma (onde visita Carlo Levi, seu amigo), Capri, entre outros lugares.
Algumas frases do livro:

"Quanto mais se desce para o sul, mais os alimentos se aproximam da pedra ou da madeira morta. É forçoso: é preciso conservá-los por muito tempo. Olhe esta linguiça." (p.31)

"Tenho como vizinho [de quarto] um padre de cabelos negros que ronca a partir das dez horas e canta de manhã cedo enquanto faz a barba; através da fina divisória escuto a lâmina de barbear raspar seu rosto" (p. 35).
Sobre as águas de Veneza:

"A água é muito comportada; não a ouvimos. Tomado de desconfiança, debruço-me: o céu caiu dentro dela. Ela mal ousa se mexer e seus milhões de dobras balançam confusamente e insossa Relíquia que fulgura intermitentemente." (p. 173).

"O que  há de mais desprovido de mistério do que um turista? Pois bem, este, cristalizado em sua imobilidade suspeita, é tão inquietante quanto esses selvagens dos filmes de terror que afastam os juntos dos pântanos, seguem a heroína com um olhar brilhante e desaparecem. É um turista da Outra Veneza, e nunca verei o que ele vê." (p. 179).

Um livro que vale a pena a leitura para aprender a ter um outro olhar ao menos enquanto somos turistas.

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