sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Ditadura do politicamente correto?

Postado por Alexandre Panosso Netto
Estamos vivemos a ditadura do politicamente correto em micro escala?
Explico.
Nas tais redes sociais a rápida visibilidade que um comentário qualquer tem é fascinante. Caso seja postada uma opinião que vai contra à opinião pública, à grande massa, é como um risco de pólvora acesa que se espalha, e o resultado pode ser desastroso para a imagem de quem publicou tal comentário. Além disso, é eliminada a possibilidade de comentários futuros, por pura pressão, patrulhamento.
Comentários dúbios (ou mais críticos), peças publicitárias, discursos políticos e até palestras nas quais as pessoas expressam suas opiniões, também podem ser mal compreendidos. A linha entre o certo e o errado, entre o humor inteligente e refinado e o escárnio, entre o respeito e o desrespeito está cada vez mais difícil de ser identificada.
Há também aqueles plantonistas de internet, - pessoas que têm todo o tempo do mundo para fuçar no seu Facebook, falecido Orkut, Linkdin, Twitter, blog, etc., - em busca de um erro de gramática, uma opiniãozinha diferente, um mero deslize, ou algo que consideram errado, e estão atentos a tudo o que se passa na rede. Tais pessoas procuram intimidar, pois assim que encontram algo que pode causar mal estar ao outro, distribuem a notícia.
Estou dizendo que não devemos nos manifestar? Não.
Estou dizendo que, apesar de parecer que cada um é livre para dizer e escrever o que quiser, não é bem isso o que ocorre, pois a força do politicamente correto está por aí em micro escala, ao nosso lado, em nossa rua, em nossa escola, em nossa igreja, em nossa comunidade. Solta, livre, e sem muito a perder.
No caso de um professor, por exemplo, seja ele universitário ou não, o perigo é maior. O prezado docente pode escrever em seu Twitter que, sei lá, não gosta do "vermelho". Logo, a turma do "azul" está pronta para discriminá-lo. E como um professor é um formador de opinião, então o patrulhamento é maior.
Opiniões políticas, então, somente os muito engajados para dizerem o que pensam. Se você é de esquerda, cuidado com os da direita. O contrário também é verdade.
A mim parece que a tal tecnologia, neste quesito, tem afastado as pessoas, mais do que aproximado. Numa roda de amigos alguns até se manifestam, mas quando é para registrar, gravar em entrevista, escrever ou publicar, há aqueles que se esquivam.
Concordo que o respeito às diferenças acima de tudo deve existir. O que não concordo é com a forma  como estamos lidando com essa situação. O correto seria o debate. Mas nem todos são francos e nem todos estão abertos a isso. Então, os patamares de discussão são distintos, e aí não há quem se entenda.
Portanto, cuidado da próxima vez que for dizer que gosta mais do "azul" do que do "vermelho", pois pode ser que a turma do "amarelo" se zangue.
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Comentário adicional
Seguindo a linha de raciocínio acima, nesta semana de forma inusitada caiu em minhas mãos o livro do Luiz Felipe Pondé, "Guia politicamente incorreto da filosofia".
Trata-se de um texto que tenta desnudar a origem do politicamente correto - PC. Pondé tem opiniões que vão contra à grande corrente, ao grande fluxo. Na verdade, ele também busca denunciar a pobreza da vida cotidiana e do PC que se apresenta sem fundamento e vazio em sua existência. Sobre o turismo, especificamente, ele afirma que todos querem viajar mais e mais, e o mundo está cheio de turistas, portanto, o mundo virou um "churrasco na laje".
Não concordo com tudo o que está no livro (será que estou tentando ser politicamente correto com esta afirmação?), mas o texto leve, agradável, com capítulos ligeiros, crítica ácida e inteligente, nos leva a refletir sobre o tema, ou sobre os vários temas da vida cotidiana.

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