sábado, 20 de fevereiro de 2010

Imposturas intelectuais

Hoje Antonio Cicero publicou na Folha de São Paulo (Ilustrada, E12) o texto "Heidegger e o nazismo". Na realidade, o que me interessou não foi a relação conflituosa do filósofo com o nazismo, mas sim o início do artigo, onde o articulista lembra que Heidegger dizia que a filosofia "torna as coisas mais difíceis", no sentido de serem mais pesadas. De certa forma concordo. A filosofia vai no âmago das questões, toca fundo e por isso muitas vezes é difícil de ser compreendida.

Aqui está o ponto chave da questão: creio que há caminhos para descomplicar a filosofia para que seja transmitida e melhor compreendida. Bom, isso deveria ser aplicado a qualquer conhecimento, mas às vezes há coisas que não conseguimos compreender na ciência. Um exemplo disso é a física atual. Quantas pessoas no mundo conseguem compreender o que de mais extraordinário está fazendo Sthephen Hawking? Sua teorias a mim são incompreensíveis. Nesses dias comprei seu livro "O universo numa casca de noz" e pensei, vou até o fim. Que nada. Depois do segundo capítulo eu não entendi mais nada. E olha que o livro é de divulgação científica. Bom, mas Hawking é Hawking, né.

O problema é que há pseudos-cientistas (conheço um monte eles...) que escrevem por aí numa linguagem incompreensível, e até falam assim em suas apresentações. Sabe o que penso disso: que nem eles entendem profundamente do que estão falando. Simples assim: se não conheço algo, falo complicado e ninguém entende mesmo. O problema é que nem sempre há uma criança na sala para dizer que "o rei está nu"...

Daí vem o título da postagem que é também o título do polêmico e famoso, (ou famoso e polêmico?) livro de Alan Sokal e Jean Bricmont. Sokal, em uma sacada há um tempo atrás submeteu um artigo para a revista Social Text todo cheio de citações e frases corretas que não diziam nada com nada. Uma brincadeirinha (de mau gosto). O pior é que o artigo foi aceito e publicado. Ele veio a público então falar da farsa. Ele queria na realidade denunciar as imposturas intelectuais do filósofos pós-modernos em seus escritos que para muitos são incompreensíveis. E conseguiu, mas acho que ganhou alguns inimigos, além de fama, claro.

Portanto, quanto estou assistindo uma palestra em que o palestrante fala complicado eu, que não tenho cara de pau, mas não sou bobo, logo pergunto: poderia esclarecer melhor? não compreendi. Ou poderia citar exemplos? Se o cara está enrolando, ficará nítido. Mas tudo com educação, afinal, não temos que saber tudo na vida e não sabemos tudo.

As perguntas abrem portas, lembre-se disso.
(Postado por Alexandre, pois Tatiana está ocupada fazendo coisas úteis).


6 comentários:

Karla disse...

Olá Alexandre!
Muito bacana a proposta - nem tão despretensiosa quanto quer parecer - de seu blog. Tomei conhecimento dele, através da lista a ANPTUR.
Estou plenamente de acordo com o que nos sinaliza sobre as "imposturas intelectuais". Mas, ao meu ver, outras imposturas me parecem mais graves: ao invés de falas complicadas que não dizem nada, há as "mal faladas" ou mal escritas, que têm mesmo a ambição de dizer alguma coisa. Tá bom, a intenção pode até ser mais, digamos, ética que a dos intelectualóides de plantão, mas também nos causa um dissabor acadêmico daqueles... Sem contar o constrangimento, ao assistir a esses profissionais (muitos deles "colegas") tão empenhados nessa tarefa.
Bem, como não é só a Tatiana que tem coisas úteis a fazer, vou ficando por aqui.
Um abraço,
Karla Godoy (da UFF)

Alexandre Panosso Netto disse...

Karla,
muito bom seu comentário. Concordo com o que você disse, mas o melhor mesmo foi o termo "intelectualóides de plantão"...colocarei em meu dicionário para usar de vez em quando.
Abraços.
Alexandre

Cleide disse...

Alexandre e Tatiana,

Estou gostando do blog, tambem sou Turismóloga e gosto de filosofia e ciências sociais.

De vez em quando me pego pensando nesse assunto, me lembro de tantos congressos acadêmcos, do dialogo com colegas que seguem carreira em outras áreas e vejo o quanto as vezes nos fechamos apenas nos nossos estudos sem compartilhá-lo com outros campos e menos ainda com a vida cotidiana. Tive um exemplo disso quando fiz mestrado, frequentei uma disciplina sobre Estética e filosofia da arte que amei - mas eu era uma dos poucos não filósofos por formação que me aventurei a fazer a disciplina.

As vezes a discussão se acalorava, e cada aluno desfilava o seu repertório de idéias baseado em um filósofo diferente, e com sua interpretação particular desse filósofo, é claro. As vezes partiam de premissas tão estranhas, ou davam tantas voltas para dizer algo simples, que eu ficava pensando se eles sabiam realmente do que estavam falando. Na maioria das vezes eu preferia a postura "só sei que nada sei", para ouvir tudo e absorver o que me fosse útil, confesso que alguns dias ia pra casa com dor de cabeça de tanto me esforçar...

Quando penso nessas questões, das especializações de áreas de conhecimento, e como elas vão se tornando ilhadas com seus próprios jargões, e as vezes debatendo como se fossem adversários quando falam na verdade a mesma coisa, gosto de lembrar das reflexões de Boaventura Souza Santos, em "um discurso sobre as ciências" dizendo que a ciência deve se abrir para servir à vida cotidiana, porque ciência só na academia, não contriubui muito para nossa vida e para o mundo.

Realmente eu acho que é para esse caminho que deveríamos caminhar, ainda mais em um tempo quando, segundo o mesmo filósofo que citei: “A ciência moderna produz conhecimentos e desconhecimentos. Se faz do cientista um ignorante especializado faz do cidadão comum um ignorante generalizado” Talvez a simplicidade seja o grande desafio do nosso tempo, pois se quem é acadêmico não consegue abarcar tudo que é produzido em sua área e conhecer profundamente tudo sobre ela, imaginemos as pessoas comuns, alheias a esse meio, pouco podem beber da fonte dos conhecimentos aos quais tanto nos dedicamos... não sei se é utópico pensar que todo conhecimento científico deve ser popularizado, mas creio que uma maior abertura e diálogo [pelo menos interdisciplinar] seria bem vinda...

Abraços e sucesso com o blog!!!

Cleide

Alexandre Panosso Netto disse...

Oi Cleide. Muito do que você diz é verdade. Poucos buscam a fundo o conhecimento (se é que isso é possível...), bom, mas sempre tem que tenta. Boaventura é um exemplo ótimo para suas reflexões e para o que temos comentado. Bem lembrado.
Abraços e nos vemos nas postagens da vida.
Alexandre.

Danielle Senna Dorotéu. disse...

Ate que enfim um blog interessante


Continuem!!!

Sorte a nossa.

Vlademir Senna

Alexandre Panosso Netto disse...

Valeu amigo Senna! Obrigado pelo apoio! Abraços.

Alexandre